O polêmico caso de Imane Khelif

Imane Khelif nas Olimpíadas de Paris 2024

O polêmico caso da atleta Imane Khelif não é tão simples como parece e está longe de terminar. Há precipitação no julgamento e muita desinformação sendo espalhada por todos os lados.

Abaixo foram expostos alguns pontos que podem nos levar a uma reviravolta.

O início da polêmica

A polêmica teve seu início em março de 2023, após a IBA (International Boxing Association) desqualificar a atleta um pouco antes de sua luta pela medalha de ouro no campeonato mundial feminino, alegadamente por ‘não atender aos critérios de elegibilidade’. Segundo a associação, as atletas Lin Yu-ting e Imane Khelif ‘não passaram por um exame de testosterona, mas foram submetidos a um teste separado e reconhecido, pelo qual os detalhes permanecem confidenciais.’.

Umar Kremlev, presidente da IBA, afirmou também que os testes realizados em algumas atletas ‘provaram que elas tinham cromossomos XY e, portanto, foram excluídos dos eventos esportivos’.

Lin Yu-ting não recorreu da decisão a Corte Arbitral do Esporte (CAS) e Imane Khelif teria retirado o seu recurso, validando assim a decisão da IBA.

A versão do COI

Por outro lado, o Comitê Olímpico Internacional (COI) se pronunciou afirmando que a IBA ‘foi suspensa pelo COI em 2019 como o órgão internacional que rege a versão amadora do esporte, devido a preocupações com suas finanças, ética e governança.’.

Sobre os critérios adotados, o COI se pronunciou: “assim como em prévias competições olímpicas de boxe, a idade e o gênero dos e das atletas são baseados nos seus passaportes.”. Ou seja, o COI aparentemente não adota nenhum critério rigoroso para determinar se a atleta tem alguma vantagem competitiva.

Khelif não é transsexual

Imane Khelif de fato não é transsexual. Foi reconhecida como mulher desde o seu nascimento e foi criada como tal, inclusive foram divulgadas diversas fotos de quando ela era criança. Em entrevista para a televisão, o pai de Khelif mostrou fotos de sua infância e reafirmou que ela é sim mulher.

Não é questão de ativismo ou militância, mas sim uma questão semântica. Se a pessoa não tem intenção ou não passou por nenhum processo de transição de gênero, ela não é transsexual.

Porém, isso não necessariamente prova que ela realmente é uma mulher do ponto de vista biológico.

Ela pode ser intersexual

A imprensa também está ajudando a propagar muita desinformação sobre o caso, ao repassar a informação de que a atleta é intersexual e sofre de uma condição chamada distúrbios da diferenciação sexual (DDS). A própria atleta não se reconhece como intersexual e ainda não há nenhuma comprovação oficial de que ela realmente se encaixa nesta definição, assim como também não há comprovação do contrário.

Algumas pessoas podem ter órgãos genitais femininos e ao mesmo tempo ter cromossomos XY, que determinam o sexo masculino, como é o caso da corredora sul-africana Caster Semenya, e supostamente também seria da própria Khelif.

Se este for o caso, Khelif pode possuir vantagem competitiva sobre as demais atletas, pois não há indícios de que ela foi submetida a algum tipo de tratamento.

Ela pode ser homem?

Há uma hipótese pouco provável, mas que não é impossível.

Existe um argumento de que seria impossível a atleta ser homem pelo fato de ter nascido na Argélia, um país onde regem as rigorosas leis islâmicas. Porém, não é impossível que uma pessoa com alguma condição médica, como o pseudo-hermafroditismo masculino, seja registrada e educada como mulher, ainda mais em um país fechado onde há pouco informação e o assunto é praticamente proibido.

Uma pesquisa rápida sobre essa condição pode demonstrar ao leitor como ela realmente pode levar a um falso julgamento sobre o gênero de uma criança.

Outro motivo pelo qual essa hipótese não pode ser descartada, é que o COI não faz nenhum exame ginecológico para confirmação de gênero e se baseia apenas no gênero descrito no passaporte dos atletas.

Por outro lado, a IBA não deixa claro quais foram os testes realizados.

Outras possibilidades

Há a possibilidade que Imane Khelif realmente seja uma mulher cisgênero sem vantagens competitivas, que está sendo vítima de uma grande injustiça devido a sua aparência.

Há também a possibilidade dela ter produzido grandes doses de testosterona em algum momento da vida, de forma natural, devido a alguma razão médica, como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), ou até mesmo de forma artificial, através do uso de esteróides anabolizantes.

Conclusão

A hipótese de que ela seja uma mulher cisgênero com algum distúrbio hormonal parece ser a mais plausível até o momento, e isso também é um problema, já que a atleta pode ter desenvolvido alguma vantagem competitiva. Portanto, é justo que haja uma investigação e comprovação dos fatos para que a justiça seja feita por Imane Khelif e suas colegas.

Ninguém pode bater o martelo e dar um veredicto a partir de informações compartilhas na internet. Há poucas evidências e muitas informações conflitantes para se chegar a um conclusão. Quase tudo aqui é especulação, e até os testes realizados pela IBA necessitam de melhores esclarecimentos.

O COI também tem a sua parcela de culpa por não esclarecer quais foram os critérios adotados, nem se a atleta passou por algum tipo de avaliação mais rigorosa. Tudo leva a crer que não. Cabe as duas organizações esclarecer a situação.